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Anri Sala - Sem Título

 Leituras cruzadas



Oito quadros brancos sobre um fundo branco

Oito imagens que se enfrentam numa sala revestida pela metade por azulejos azuis.
Oito fotografias em preto e branco que parecem ser desenhos
Oito representações com o mesmo fundo: um canto de teto, onde descansam mariposas.

Oito símbolos da relação ao espaço
Oito instantes capturados, congelados, ilustrações fora do tempo
Oito manifestações da confrontação entre o natural e o artificial
Oito configurações diferentes do mundo


Um solene efeito sobre o espectador : Por que estar aqui e não lá?

Por: Clarisse Peugnet e Kevin Tokunaga


Anri Sala - Sem Título

 Leituras cruzadas



Oito quadros brancos sobre um fundo branco

Oito imagens que se enfrentam numa sala revestida pela metade por azulejos azuis.
Oito fotografias em preto e branco que parecem ser desenhos
Oito representações com o mesmo fundo: um canto de teto, onde descansam mariposas.

Oito símbolos da relação ao espaço
Oito instantes capturados, congelados, ilustrações fora do tempo
Oito manifestações da confrontação entre o natural e o artificial
Oito configurações diferentes do mundo


Um solene efeito sobre o espectador : Por que estar aqui e não lá?

Por: Clarisse Peugnet e Kevin Tokunaga



Sobre Answer Me, 2008


No dia 21 de outubro, nós visitamos o Instituto Moreira Salles para apreciar o trabalho do artista Anri Sala. Nascido em Tirana, Albânia, em 1974, cursou a pós-graduação em direção de cinema, atualmente vive em Berlim, Alemanha.
A obra que mais nos chamou atenção foi a Answer Me (2008), um vídeo no qual há um casal em conflito. A mulher tenta se comunicar com seu parceiro, que se recusa a respondê-la. Na cena, é difícil compreender a fala da protagonista, pois seu interlocutor toca uma bateria sem cessar. A partir disso, podemos interpretar que o autor da obra quis destacar o conflito do diálogo em que uma das partes, além de não ser ouvida, é silenciada. No filme, o artista valoriza as expressões faciais dos personagens, ficando nítida essa intenção através dos closes fechados, principalmente no olhar do personagem masculino. Nessa análise, podemos perceber que a linguagem principal da obra é a não-verbal cujo objetivo é traduzir o que não pode ser dito em palavras.



É interessante notar que o cenário escolhido, o interior de uma cúpula (Teufelsberg) construída pelos nazistas, foi utilizado pela Agência Nacional dos Estados Unidos para espionar o Bloco Soviético durante a Guerra Fria. Ao optar por uma zona histórica de conflito, o autor ressalta a tensão entre as duas partes de um relacionamento amoroso.




Pode-se concluir que a obra procura tratar dos problemas do diálogo e da impossibilidade de traduzir certos sentimentos em palavras em um relacionamento contemporâneo.

Grupo: Adiel Beatriz, Bruna Monte, Luísa Savi, Marcos Vinícius,Ygor Miranda. 

Nascido na Albânia em 1974 e realizando apresentações de seu trabalho desde 1998, Anri Sala chega ao Instituto Moreira Sales no Rio de Janeiro com uma exposição solo. Focado no videoarte – mas contando com fotografias também-, o artista, através da montagem e ocupação não usual do espaço do instituto, procura promover experiências novas e provocantes aos visitantes. A montagem da exposição e as salas, a primeira vista, transparecem um tanto quanto caótica, tentando subverter e confundir nossas percepções. Mas com a análise das obras e de seu conteúdo, é possível buscar um entendimento de um mundo que antes nos pareceria impossível.

O som é uma dessas ferramentas que Anri usa para nos provocar. A obra Làk-Tak, por exemplo, deixa isso claro: à primeira vista, os meninos senegaleses que aparecem nas três telas de tv que compõem o trabalho nos dizem palavras aleatórias acompanhadas de legendas traduzidas distintas. Porém, através do olhar do artista, a subjetividade da obra toma uma grandeza tamanha: mostra como as relações culturais e sociais são inerentes a traduções de línguas – e dessa forma significando de formas distintas uma mesma palavra matriz.

Anri Sala, a todo o momento, criar uma relação entre o visual e o audível. Uma obra interessante nesse aspecto é Bridges in the Doldrums, que acontece no avarandado. Os tambores, alguns pendurados e outros no chão, reproduzem sons de baixa frequência, através de caixas de som em seu interior, que são capazes de produzir movimento na pele do tambor e fazer as baquetas, fixadas, se moverem e produzirem som também. É a memória de uma ação passada produzindo uma outra – o passado, literalmente, refletindo o presente.

Outro aspecto curioso de Bridges in the Doldrums é a brincadeira da imaterialidade do som e sua “flutuabilidade” no espaço com os tambores flutuando no avarandado. O som flue e ocupa o espaço disponível integralmente, assim como procurou fazer com que os tambores fizessem o mesmo. O artista, através da montagem não convencional dos tambores no ar e em diversas posições, acaba deixando perceptível esta relação entre o material e o imaterial aos nossos olhos.


A exposição tem um caráter não apenas artístico e cultural, mas político-histórico também. Na obraAnswer Me, o artista retrata as relações interpessoais de maneira conturbada em uma cúpula usada pelos EUA para espionagem e monitorar o bloco soviético, fazendo alusão ao período também conturbado da Guerra Fria. Retornando a temas como a guerra fria e regimes totalitários, Anri Sala cria sua própria linguagem de apresentação dos temas através de narrativas visuais e/ou musicais.

Grupo: Daniel Dorea, Juliana Marins, Maria Luiza Resemini, Mateus Thompson.

Anri Sala - Intervista

Intervista (finding the words) é uma obra de Anri Sala lançada em 1998. Ganhadora de uma série de prêmios, como o de Melhor Documentário no Festival Entrevues e no Brooklyn Film Festival, foi a responsável por dar ao artista um destaque no cenário internacional das artes. Seu formato é em vídeo a cores com duração de aproximadamente 26 minutos e conta a história do então estudante de artes Anri Sala retornando em 1997 a Tirana, capital de seu país natal, a Albânia. Durante o seu retorno, o jovem acha uma fita da sua mãe em um congresso comunista ocorrido há 20 anos, no qual ela representava uma das lideranças, dando uma entrevista. No entanto, a entrevista estava de certa forma incompleta, faltava o áudio.
Anri mostra o achado a sua mãe que, por azar, não se lembra. Assim, Sala vai em busca de formas de achar as palavras perdidas, primeiramente com o entrevistador, sem sucesso, e logo depois com um grupo de surdo-mudos que finalmente conseguem decifrar o silêncio da fita.


Com isso, Anri leva a fita com as legendas para a sua mãe que fica surpresa com o que disse, como disse e até chega a duvidar se aquilo que os surdo-mudos disseram seria de fato a verdade. Alega que aquilo não faria sentido e que, sabendo se expressar bem, nunca poderia ter dito algo assim, aqui temos o momento em que história, que é registrada, se distingue de memória, que pode ser recontada.
A partir disso, a mãe de Sala começa a refletir profundamente sobre a situação política da Albânia à época da entrevista. E encerra com uma pincelada sobre a situação atual, mas de uma maneira a compará-la com as expectativas do que seria e a razão do por que não foi assim como as suas próprias, pessoais e diversas mudanças.
O interessante sobre o curta de Anri Sala, muito mais do que a reflexão sobre a situação política da Albânia ou a busca pelas palavras perdidas do rolo, é o paralelo que se traça entre a jovem militante e a já em idade mais avançada mãe e o também encontro dessas duas. Daí, dá-se o nome da obra Intervista que, estabelecendo uma relação de semelhança sonora com "entrevista", tem o prefixo "inter", que indica uma ligação entre dois pontos. Portanto, uma vista, um registro, do encontro entre uma mulher que foi e a mulher que é. Essa ideia logo mostra a profundidade e o talento do então jovem artista Albanês que com sentimento, poesia, crítica e reflexão promove um encontro que a princípio é temporalmente impossível.

Grupo: Isaque Ferreira, Brunno Motta, Leonardo Couto, Guilherme Telles

Answer Me (2008) - Anri Sala

O trabalho do artista albanês Anri Sala tem uma abordagem poética e conceitual sobre a arte, que se utiliza dos campos da música, som e arquitetura, misturando essas ferramentas da expressão para afetar nossa percepção do espaço e do tempo e a ideia de comunicação para além dos limites da linguagem.
Sua obra intitulada ¨Answer Me¨ (2008), por exemplo,em tradução livre para ¨Responda-me¨,corresponde a um vídeo em HD, com som estéreo disposto em um único telão. No vídeo exibido, uma mulher tenta de qualquer forma se comunicar com seu parceiro, que toca bateria com bastante força e, portanto, muito alto, se negando a ouvi-la. Ambos encontram-se distantes um do outro,em lados opostos de uma enorme sala. O homem está de costas voltado para uma parede de uma cúpula geodésica que acaba por amplificar e ecoar o som da sua performance. Já a mulher, se encontra ao lado de um tambor sobre o qual existem duas baquetas que se mexem aparentemente sozinhas. No entanto, essa situação pode ser explicada pelo poder de ressonância do domo que resulta na multiplicação do som da bateria que faz vibrar o tambor mencionado e, consequentemente, faz mover as baquetas.
O artista utiliza como cenário para filmagem da obra em questão, um local conturbado da Albânia, no interior das cúpulas da antiga estação de escuta e espionagem feita pela agência de segurança nacional dos Estados Unidos, em Berlim Ocidental, para monitorar o bloco soviético. Dessa maneira, se conecta paralelamente com a situação frágil e problemática que o casal se encontra, que divididos entre lados opostos, não conseguem encontrar um diálogo saudável para resolver seus problemas.
Nesse contexto, percebe-se que o espectador, não só é levado a avaliar de maneira crítica a cena, a partir de um ponto de vista histórico, mas também é lançado com radicalidade no tempo presente a partir de abordagens do som como fenômeno físico de impacto sobre as emoções, sendo perceptível nitidamente entre as respostas verbais inexistentes e negligenciadas para todas as indagações da jovem.
Assim, conclui-se que a obra “Answer Me” do artista Anri Sala é responsável por representar ,tanto a ideia do silêncio presente no universo amoro conflituoso, como também o silêncio existente na impossibilidade de comunicação, devido ao período de Guerra Fria.

Grupo: Eduarda Montenegro, Lucas Soares, Luiz Eduardo Bandeira e Jonas Linhares





O trabalho do artista albanês Anri Sala tem uma abordagem poética e conceitual sobre a arte, que se utiliza dos campos da música, som e arquitetura, misturando essas ferramentas da expressão para afetar nossa percepção do espaço e do tempo e a ideia de comunicação para além dos limites da linguagem.
Sua obra intitulada ¨Answer Me¨ (2008), por exemplo,em tradução livre para ¨Responda-me¨,corresponde a um vídeo em HD, com som estéreo disposto em um único telão. No vídeo exibido, uma mulher tenta de qualquer forma se comunicar com seu parceiro, que toca bateria com bastante força e, portanto, muito alto, se negando a ouvi-la. Ambos encontram-se distantes um do outro,em lados opostos de uma enorme sala. O homem está de costas voltado para uma parede de uma cúpula geodésica que acaba por amplificar e ecoar o som da sua performance. Já a mulher, se encontra ao lado de um tambor sobre o qual existem duas baquetas que se mexem aparentemente sozinhas. No entanto, essa situação pode ser explicada pelo poder de ressonância do domo que resulta na multiplicação do som da bateria que faz vibrar o tambor mencionado e, consequentemente, faz mover as baquetas.
O artista utiliza como cenário para filmagem da obra em questão, um local conturbado da Albânia, no interior das cúpulas da antiga estação de escuta e espionagem feita pela agência de segurança nacional dos Estados Unidos, em Berlim Ocidental, para monitorar o bloco soviético. Dessa maneira, se conecta paralelamente com a situação frágil e problemática que o casal se encontra, que divididos entre lados opostos, não conseguem encontrar um diálogo saudável para resolver seus problemas.
Nesse contexto, percebe-se que o espectador, não só é levado a avaliar de maneira crítica a cena, a partir de um ponto de vista histórico, mas também é lançado com radicalidade no tempo presente a partir de abordagens do som como fenômeno físico de impacto sobre as emoções, sendo perceptível nitidamente entre as respostas verbais inexistentes e negligenciadas para todas as indagações da jovem.
Assim, conclui-se que a obra “Answer Me” do artista Anri Sala é responsável por representar ,tanto a ideia do silêncio presente no universo amoro conflituoso, como também o silêncio existente na impossibilidade de comunicação, devido ao período de Guerra Fria

Grupo: Eduarda Montenegro, Lucas Soares, Luiz Eduardo Bandeira e Jonas Linhares


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Anri Sala e a Arte Contemporânea: entre a poesia, a matemática, a melodia e a dubiedade.


O início da exposição ocorre com a obra “Title Suspended”, que consiste em resina, luvas de borrachas e motor elétrico. As mãos feitas com resina são envoltas por uma luva, que por sua vez, é movida por um motor elétrico para dar uma volta completa por volta de dois minutos. É de suma relevância ressaltar que há apenas dois dedos na mão, ou seja, alguns dedos da luva não são ocupadas e despencam. A obra pode estar relacionada com o afresco “A Criação de Adão” de Michelangelo, no qual Deus e Adão estendem as mãos com o intuito de se tocarem, todavia, seus dedos não se encostam. O movimento realizado dá ênfase nas perspectivas que podemos ter acerca de cada circunstância. 

Time-lapse da obra "Title Suspended"
A sétima atração da exposição de Anri Sala no Instituto Moreira Salles, Le Clash, é um vídeo HD em canal único. No local em que se passa o filme, há uma tela no meio da sala, no qual dois filmes distintos são projetados em cada lado; eles tocam versões da música “Should I Stay or Should I Go”, traduzindo para a língua portuguesa “Devo ir ou devo ficar”. De um lado, passa a produção audiovisual Le Clash, filmado em 2010, já no outro lado, Tlateloco Clash, filmado em 2011. 

 

O vídeo Answer Me foi filmado na Alemanha Ocidental, já The Clash foi filmado em Bordeaux, na França. A cidade francesa foi importante cenário do movimento punk na década de 80 e 90. Em The Clash, o vídeo retrata um homem carregando uma caixa de música e um casal empurra um realejo, indo em direção à casa de concertos Salle de Fêtes. No vídeo Tlatelco Clash, a música é imediatamente reconhecível, parece fantasmagórica e nostálgica ao ser tocada por um instrumento antigo e muito anterior ao movimento punk, o realejo, no qual há uma pauta perfurada e a máquina emite sons, reproduzindo um sucesso de outrora. A filmagem aconteceu na Cidade do México, mais especificamente na praça das Três Culturas, palco da batalha entre os astecas e espanhóis e do Massacre de Tlatelolco. Partindo-se dessa premissa, poder-se-ia afirmar que o local possui certa carga histórica, algo recorrente nas obras de Anri Sala, que explora veementemente esse viés.
A arquitetura da sala é premeditadamente com o intuito de associar-nos-emos a música com o movimento, nos induzindo a decidir entre assistir um dos filmes. Dessarte, surge a dúvida entre ir ou ficar, ou seja, afigura-se com a canção do grupo The Clash, portanto, os dois vídeos constituem apenas um trabalho. Vale salientar que Anri Sala tem o objetivo de criar um sentimento de incerteza nos espectadores, tendo em vista que o trabalho cria uma relação do espaço com a música de maneira interessante e interativa. A obra pode estar simbolizando as relações humanas e as decisões que temos de tomar ao longo da vida, enfatizando a dubiedade que paira sobre os indivíduos de diversas esferas. 


Outrossim, a exposição “No Window No Cry” dialoga com a arquitetura do local, relacionando o exterior com o interior, sobejando os limites da imagem e difundindo no espaço a obra de Anri Sala. A exposição conta com caixa de música, vidro e esquadria de metal; ao girar a esquadria de metal, ouve-se a música “Should I Stay or Should I Go” novamente, relacionando com a obra “Le Clash”. Ademais, cria-se novamente a sensação de dubiedade, haja vista as diversas possibilidades que a música poderá ser ouvida. Ao encostar a cabeça no vidro, deixamos nossos ouvidos mais perto da caixa de música e o som é propagado de maneira mais intensa; dessa maneira, o indivíduo tem a possibilidade de ouvir de maneira diferente a mesma música. Quando giramos a esquadria de metal devagar, a música é reproduzida mais lentamente; já quando giramos mais rápido, a música é reproduzida de maneira acelerada. Por conseguinte, podemos concluir: há versões distintas de que o indivíduo pode ouvir a canção. É concebível que Anri Sala tenha correlacionado a possibilidade de alterar a velocidade com o ritmo frenético nos grandes centros urbanos.



A arte contemporânea em si mesma é tão plural quanto os próprios observadores e suas compreensões; isso não quer dizer, contudo, que ela esteja descolada das questões da atualidade, afinal, a arte é produzida pelo homem assim como o homem se deixa produzir pela e através da arte. Ao observar um trabalho como Answer Me, uma forma de leitura possível que chama atenção é como a obra em questão passa a ser metáfora das interações humanas.


  Ora, escolher uma colina artificial de destroços e uma cúpula da antiga agência de espionagem estadunidense em Berlim não é mero acaso (e mesmo se fosse, o acaso em si mesmo já produz sentido específico na arte em questão). Os homens, em geral, desde que desenvolveram o notável dom da fala parecem ter perdido de vista falar aquilo que realmente querem dizer. O ruído na comunicação é evidente: a bateria estridente pode representá-lo. Ademais, isso não significa que a resposta não esteja sendo dada, é possível que a forma como a resposta esteja sendo dada simplesmente não esteja sendo compreendida. É quase como se fossem duas pessoas falando idiomas completamente diferentes: húngaro e português, inglês e mandarim... Poesia e matemática (será?).  De onde surge o diálogo, se não da diferença? O que seria do mundo se todos falássemos a mesma língua? E mesmo assim somos capazes de nos entender, mesmo entre a poesia e a matemática. 

Bridges in The Doldrums
 Ao traduzir a interação de um casal não como um encontro, mas sim em uma zona marcada pelo conflito (e através do próprio conflito), o artista produz uma capilarização de efeitos enorme no espectador. Não somente dessa simples relação conjugal, pode-se ir para muito além (e o que é a arte se não ir além?) dela: a comunicação nem sempre se dá na concordância, na answer (resposta), mas também se dá no barulho, na confusão, na discordância. 
Toda produção de discurso não é finita, acabada. A produção do discurso só ganha sentido no outro, a partir do momento que o outro se põe a ouvir, se deixa penetrar por ele assim como a música. E essa troca produz efeitos, vibrações, mexe nossas baquetas e produz sentido antes mesmo que se tenha consciência disso (ora, novamente, o que é a arte se não exatamente isso?!).

Claramente, pode ser que o autor não tenha tido intenção virtual alguma nesse sentido descrito. Apesar disso, não se pode negar que a arte, enquanto arte, cumpriu o seu papel simplesmente porque já produziu sentidos (e por isso até a falta de sentido já é um sentido em si mesmo) múltiplos em quem a viu, ouviu, experimentou, foi penetrado por ela. Nesse sentido, a arte parece muito com a língua: talvez não tenha tanta importância se você fala abacate e te escutam dizer banana, posto que a troca em si já é a arte. Talvez a arte esteja bem aí, entre o poder de gritar poesia, ecoar no outro a matemática e ter como resposta melodia.

GRUPO: Giulia Alves, Lucas Freitag, Renata Rougemont e Vitor Grama.

Na exposição do Anri Sala no Instituto Moreira Salles, há uma obra que na verdade são 2. Essas obras, se juntaram em um bloco suspenso que recebia projeção de ambos os lados. De um lado era o vídeo Le Clash, em homenagem a banda The Clash e no outro havia o Tlatelolco Clash. No Le Clash havia um homem com uma caixa de música e um casal com um realejo (instrumento musical), e ambos tocavam a música "Should I Stay or Should I Go". No Tlatelolco, pessoas que estavam pela praça de mesmo nome, manuseavam o realejo para tocar a famosa música "Should I Stay or Should I Go". O artista brincou com a emblemática música da banda britânica, uma vez que colocou ambos os vídeos simultaneamente, causando assim uma dúvida no apreciador da arte sobre qual tela olhar. E aí o admirador ficava em um dilema sobre se vai ou não para a segunda tela, ou assiste a primeira. Um jeito simples mas eficaz de brincar com o vídeo, a projeção e a letra da música.

Anri: de Sala a sala

   A exposição Impacto sensorial do artista e criador de filmes Anri Sala é uma experiência musical e agradável de um dos artistas mais importantes de Leste a Oeste da Europa. A música transita pelos corredores do Instituto Moreira Sales de forma brilhante, se definindo de sala a sala, sendo instalada de forma brilhante.
   Sala nasceu quando sua terra natal Albânia, estava sobre controle do paranoico ditador Enver Hoxha. Passando a ser conhecido com seu primeiro documentário denominado de Intervista (1998) de quando ainda era estudante na Ecole Nationale des Arts Décoratifs, escola localizada na França. Tendo um grande engajamento com seu país com esse filme e outro chamado de Dammi i Colori, aonde ele demonstrou o legado deixado pelo comunismo em linhas pessoais e urbanas.
Nos Trabalhos após esses filmes, porém, ele começou a ter produções mais poéticas, com filmes e vídeo profundos, tristes e diversas vezes barulhentos sobre a história europeia recente. Uma dessas novas obras é o vídeo Answer Me de 2008 exposto no Impacto Sensorial. Filmada em uma estação de espionagem americana da Guerra Fria, que buscavam informações da Alemanha Oriental e seus aliados. Retratando uma mulher com dificuldades para se comunicar com um homem que responde apenas com batidas de bateria e silêncios abruptos. Usando a forma mais abstrata de arte, a música, que reflete na obra a triste história da Europa no século XX, além de oferecer também um meio de redenção pela mesma.
   Outro trabalho audiovisual, em exposição no Instituto Moreira Sales, é o vídeo onde Sala aborda a questão étnico-cultural do Senegal. O vídeo de 2016 e nomeado pelo artista de Làk-kat 3.0 (Brazilian Portuguese/Portuguese/Angolan Portuguese) é dividido em três telas, mostra meninos negros respondendo às perguntas de um adulto. As cenas se repetem em todas as telas, mas cada uma possui uma legenda traduzidas do uólofe, idioma local: em português do Brasil, de Portugal e de Angola, respectivamente. Essas perguntas envolve as diversas formas de se descrever o preto e o branco (claro e escuro) e os estrangeiros na língua local.
   Em uma matéria publicada pelo Hauserwith, diz que “O interessante de Sala em tais transições acentua a relação entre linguagem, som, música; funciona dentro de uma zona temporal experimentada por meio dos sentidos. ” Isso porque o vídeo é mostrado em uma sala parcialmente escura, formando uma experiência única.




Grupo: Bruno Espozel, Maria Clara Trindade, Natã Fernandes e Thayane Milagre.

Le Clash/ Tlatelolco Clash - Anri Sala

           Anri Sala é um artista albanês que possui diversas formas de expressão (indo desde fotografias e músicas até vídeos). Ele alcançou certo destaque no cenário internacional após a gravação do vídeo Intervista (Finding the Words), em 1998, ainda na graduação. Nascido em 1974, é um artista contemporâneo, cuja produção ainda está em construção e pode ser adaptada de acordo com o local de exposição.
            Sua exposição mais recente pode ser analisada no Instituto Moreira Salles. Situado no bairro da Gávea, no Rio de Janeiro, o local está sendo experimentado de uma nova forma pelo público, de acordo com as adequações feitas por Anri. Quem visita a exposição se impressiona com a relação criada entre a arquitetura e as fotografias, músicas, objetos e vídeos.
            A obra Le Clash/Tlatelolco Clash consiste em dois vídeos em HD, com som surround 5.0, dispostos em dois telões no centro de uma sala. O vídeo começa a se reproduzir apenas em uma das telas, que está virada para um dos cantos da sala. Neste momento, em apenas um dos telões, é exibida a imagem de um homem carregando uma caixa de música e um casal empurrando um realejo – instrumento musical de foles –, caminhando em direção à Salle de Fêtes – uma casa de concertos em Bordeaux, fechada desde 1993. Caixa de música e realejo entoam a mesma música: Should I Stay or Should I Go, clássico da banda britânica The Clash.


Após um tempo de vídeo, a história se divide e começa a reprodução simultânea nos dois telões, cada qual virado para um canto da sala, de modo que não seja possível assistir aos dois ao mesmo tempo. A própria música, cujo título traduzido é “Devo ficar ou devo ir?”, já contribui para a dúvida do espectador a respeito de qual dos vídeos acompanhar.
 Em um dos telões, a reprodução exibida é de pedestres carregando o papel imprimido pelo realejo, instrumento muito anterior ao movimento punk, que é o período ao qual pertence a banda criadora da música que está tocando, gerando uma situação de contraste. Esses pedestres estão na Cidade do México, mais especificamente na praça das Três Culturas, que é, por si só, um local de muito contraste cultural. A praça abriga ruínas do tempo asteca Tlatelolco (origem do nome do vídeo), uma igreja do período colonial, que marca a força espanhola, e um conjunto habitacional modernista.
Pode-se concluir, pela descrição feita acima, que Anri Sala conseguiu alcançar o seu objetivo, dito em entrevista, disponibilizada no canal do Youtube do Instituto Moreira Salles: “A arquitetura é importante no meu trabalho por promover um encontro entre obra e visitante. Isso possibilita também que a subjetividade dos outros participe das muitas subjetividades ou maneiras possíveis de apreciar, compreender ou entrar em contato com a exposição. (...) Sempre trabalho com a música como se fosse um ser. Faço coisas com a música como faço coisas com um ser.”

GRUPO: Felipe Glioche, Flora Faria, Lívia Lúcio, Lucas Tapajós e Luiza Lunardi

Le Clash/ Tlatelolco Clash - Anri Sala

           Anri Sala é um artista albanês que possui diversas formas de expressão (indo desde fotografias e músicas até vídeos). Ele alcançou certo destaque no cenário internacional após a gravação do vídeo Intervista (Finding the Words), em 1998, ainda na graduação. Nascido em 1974, é um artista contemporâneo, cuja produção ainda está em construção e pode ser adaptada de acordo com o local de exposição.
            Sua exposição mais recente pode ser analisada no Instituto Moreira Salles. Situado no bairro da Gávea, no Rio de Janeiro, o local está sendo experimentado de uma nova forma pelo público, de acordo com as adequações feitas por Anri. Quem visita a exposição se impressiona com a relação criada entre a arquitetura e as fotografias, músicas, objetos e vídeos.
            A obra Le Clash/Tlatelolco Clash consiste em dois vídeos em HD, com som surround 5.0, dispostos em dois telões no centro de uma sala. O vídeo começa a se reproduzir apenas em uma das telas, que está virada para um dos cantos da sala. Neste momento, em apenas um dos telões, é exibida a imagem de um homem carregando uma caixa de música e um casal empurrando um realejo – instrumento musical de foles –, caminhando em direção à Salle de Fêtes – uma casa de concertos em Bordeaux, fechada desde 1993. Caixa de música e realejo entoam a mesma música: Should I Stay or Should I Go, clássico da banda britânica The Clash.


Após um tempo de vídeo, a história se divide e começa a reprodução simultânea nos dois telões, cada qual virado para um canto da sala, de modo que não seja possível assistir aos dois ao mesmo tempo. A própria música, cujo título traduzido é “Devo ficar ou devo ir?”, já contribui para a dúvida do espectador a respeito de qual dos vídeos acompanhar.
 Em um dos telões, a reprodução exibida é de pedestres carregando o papel imprimido pelo realejo, instrumento muito anterior ao movimento punk, que é o período ao qual pertence a banda criadora da música que está tocando, gerando uma situação de contraste. Esses pedestres estão na Cidade do México, mais especificamente na praça das Três Culturas, que é, por si só, um local de muito contraste cultural. A praça abriga ruínas do tempo asteca Tlatelolco (origem do nome do vídeo), uma igreja do período colonial, que marca a força espanhola, e um conjunto habitacional modernista.
Pode-se concluir, pela descrição feita acima, que Anri Sala conseguiu alcançar o seu objetivo, dito em entrevista, disponibilizada no canal do Youtube do Instituto Moreira Salles: “A arquitetura é importante no meu trabalho por promover um encontro entre obra e visitante. Isso possibilita também que a subjetividade dos outros participe das muitas subjetividades ou maneiras possíveis de apreciar, compreender ou entrar em contato com a exposição. (...) Sempre trabalho com a música como se fosse um ser. Faço coisas com a música como faço coisas com um ser.”

GRUPO: Felipe Glioche, Flora Faria, Lívia Lúcio, Lucas Tapajós e Luiza Lunardi


         Anri Sala é um artista jovem albanês que começou a trabalhar com vídeo ainda na graduação na Academia Nacional de Artes de Tirana. Na exposição "o momento presente" localizada no Instituto Moreira Salles, mescla em seus trabalhos a condição política do seu país com a expressão estética das obras, na forma de videoinstalações sonoras, principalmente, mas também fotografias, que muitas vezes se aproximam de pinturas e objetos.
          Os fatores som e arquitetura são constantes ao longo de toda a exposição, que conta com catorze trabalhos e um filme experimental de quarenta minutos exibido em determinados horários da semana. Cada um dos trabalhos é disposto pelo espaço numa organização bastante peculiar que faz com que os espectadores sigam um certo trajeto elaborado por Anri, a fim de que tenham uma experiência com a arquitetura e que com o choque do presente, baseado em influências do passado, e reflitam de forma crítica.
           "Le Clash", o sétimo trabalho exposto, talvez represente de forma mais contundente os entes arquitetura e som mencionados anteriormente. Produzido em 2010, conta com um vídeo HD em canal único, som surround 5.0, em uma sala de dimensão média. A estrutura brinca com o impacto sensorial dos telespectadores pela movimentação na sala, devido ao fato de haver uma tela posicionada na parte de trás da outra, exibindo vídeos diferentes com reproduções da música "Should I Stay or Should I Go", do grupo britânico representante da cultura punk rock do começo dos anos 1980, The Clash.
            Em um dos vídeos, um homem carrega uma caixa de música e um casal empurra um realejo em direção a uma casa de concertos fechada em Bordeaux, com o som da música ao fundo em alguns momentos; no outro, a faixa do The Clash é reproduzida em um instrumento musical muito antigo por diversas pessoas. Essa dupla opção de visualização tem o objetivo de causar nos observadores o deslocamento de um lado para o outro, a escolha de um dos lados, a alternância, o "ou". A música também se relaciona com esse fator, por apresentar duas opções em seu título e letra, e isso também justifica sua escolha  da mesma pelo artista.
            Muitas interpretações podem ser obtidas pelo espectador. Acerca da música representante de uma cultura e momento histórico, além da sua alta popularidade atualmente e também sobre a presença de instrumento antigo musical utilizado por muitas pessoas em um momento no qual já é considerado ultrapassado há muito tempo. Entretanto, sem dúvida, a arquitetura do trabalho e a presença de som permeando-o, entes que trabalham a percepção e movimentação dos observadores,  é o fator mais importante a ser observado e analisado no trabalho "Le Clash" de Anri Sala.

Para Anri Sala, fazer uma exibição é como começar uma conversa com o lugar e os futuros visitantes. Não é somente exibir bem cada trabalho, mas também exibir o espaço entre os trabalhos. Para haver comunicação não tem que haver necessariamente uma narração ou uma comunicação verbal. A música, por exemplo, tem uma crescente importância em seu trabalho, enquanto a linguagem propriamente dita está cada vez menos presente. Na obra “Answer me”, há uma jovem tentando terminar um relacionamento por razões não especificadas, e ao invés de ser ouvida, ela acaba constantemente silenciada pelo barulho da bateria que está sendo tocada por aquele que virá a ser seu ex-namorado (inclusive percebe-se que a última fala da jovem é “it’s over”, ou seja, está acabado). Do lado da sala em que a jovem se encontra, o batuque do rapaz (fisicamente do lado oposto) acaba muito próximo dela. Isso mostra a ideia de como um lugar, sem fazer muito, apenas estando lá, pode transformar um silêncio constrangedor em um barulho constrangedor. Isso ocorre porque a filmagem se passa em um local propício à amplificação sonora. De acordo com a curadora da exposição feita no Instituto Moreira Sales, Anri Sala desenvolve frequentemente trabalhos em locais com alguma carga histórica. No caso de Answer me, a filmagem foi feita no interior das cúpulas geodésicas da antiga estação de escuta e espionagem construída pela agência de segurança nacional dos Estados Unidos, em Berlim Ocidental a partir de 1963, para monitorar o antigo bloco soviético. É um conjunto de quatro cúpulas que hoje são uma ruína da guerra fria, e se encontra no topo da “Montanha do diabo”, uma colina formada pelo empilhamento de destroços da cidade na segunda guerra mundial. Além disso, ela se encontra sobre o projeto inacabado de uma faculdade militar nazista que os aliados não conseguiram destruir. Essas cúpulas amplificam extremamente os sons. Desse modo, houve comunicação, porém, não necessariamente verbal por completo. O próprio local historicamente conflituoso já se relaciona com o conflito do casal.
O filme “1395 days without red” se passa em Sarajevo, focando interseções na parte da cidade chamada “Sniper Alley” (beco dos atiradores) durante o cerco de forças sérvio-iugoslavas que começou em 1992, durando mais de 4 anos. Foi fruto de um desenvolvido por Šejla Kamerić e Anri Sala que visava um projeto único em conjunto com o maestro Ari Benjamin Meyers. O nome “1395 dias sem vermelho” vem do alerta do governo contra o uso de cores vivas, temendo ataques. Sarajevo fica nos Alpes Dinaric a 1.700 pés de altitude com picos próximos atingindo mais de 6.000 pés, proporcionando ampla elevação para localizar e pressionar os habitantes da cidade. No filme, a protagonista procura chegar na sala na qual ensaia a 6° de Tchaikovsky, ou “a Patética”. No caminho, ela atravessa os cruzamentos de Sniper Alley. Tal viagem não é cronologicamente linear, indo e voltando no tempo. A noção de tempo no filme não é passada através de diálogos (os quais são ausentes), e sim pela alternância entre cruzamentos e cenas de ensaio, de acordo com a ordem das partes da peça de Tchaikovsky sendo tocadas, passando a ideia de avançar ou regredir no tempo. Assim, cria-se uma reflexão sobre memória (no caso, traumática) e o ato de assumir a memória em si (como quando se aprende uma peça). Para Sala, o filme não é sobre contar uma história, e sim reviver uma experiência. É sobre como transmitir coisas sem fala-las. O único diálogo é entre a respiração e a sinfonia tocando. Mostra também como o corpo cria gestos, podendo produzir comunicação sem produzir um discurso verbal.
Anri Sala não se vê tornando necessariamente uma referência. Ele espera que seu trabalho crie dúvidas na audiência, enquanto há muitas certezas, ou que crie certezas quando houver muitas dúvidas.
A partir dessa exposição, podemos refletir melhor sobre arte contemporânea, chegando a pensar que talvez seja uma boa forma de desautomatizar o pensamento humano contemporâneo, que se encontra acostumado com informações diretas, preso em uma zona de conforto imposta por uma cultura que direciona o homem ao que deve ser compreendido de cada informação, sem margens a um pensamento crítico ou interpretativo.
Fontes:
Ceasefire Magazine
Anri Sala: music before language- Louisiana Channel
Anri Sala- No Names, No Title

Grupo 9: Gabriela, Lívia Macêdo e Sarah Lopes


         Anri Sala é um artista jovem albanês que começou a trabalhar com vídeo ainda na graduação na Academia Nacional de Artes de Tirana. Na exposição "o momento presente" localizada no Instituto Moreira Salles, mescla em seus trabalhos a condição política do seu país com a expressão estética das obras, na forma de videoinstalações sonoras, principalmente, mas também fotografias, que muitas vezes se aproximam de pinturas e objetos.
          Os fatores som e arquitetura são constantes ao longo de toda a exposição, que conta com catorze trabalhos e um filme experimental de quarenta minutos exibido em determinados horários da semana. Cada um dos trabalhos é disposto pelo espaço numa organização bastante peculiar que faz com que os espectadores sigam um certo trajeto elaborado por Anri, a fim de que tenham uma experiência com a arquitetura e que com o choque do presente, baseado em influências do passado, e reflitam de forma crítica.
           "Le Clash", o sétimo trabalho exposto, talvez represente de forma mais contundente os entes arquitetura e som mencionados anteriormente. Produzido em 2010, conta com um vídeo HD em canal único, som surround 5.0, em uma sala de dimensão média. A estrutura brinca com o impacto sensorial dos telespectadores pela movimentação na sala, devido ao fato de haver uma tela posicionada na parte de trás da outra, exibindo vídeos diferentes com reproduções da música "Should I Stay or Should I Go", do grupo britânico representante da cultura punk rock do começo dos anos 1980, The Clash.
            Em um dos vídeos, um homem carrega uma caixa de música e um casal empurra um realejo em direção a uma casa de concertos fechada em Bordeaux, com o som da música ao fundo em alguns momentos; no outro, a faixa do The Clash é reproduzida em um instrumento musical muito antigo por diversas pessoas. Essa dupla opção de visualização tem o objetivo de causar nos observadores o deslocamento de um lado para o outro, a escolha de um dos lados, a alternância, o "ou". A música também se relaciona com esse fator, por apresentar duas opções em seu título e letra, e isso também justifica sua escolha  da mesma pelo artista.
            Muitas interpretações podem ser obtidas pelo espectador. Acerca da música representante de uma cultura e momento histórico, além da sua alta popularidade atualmente e também sobre a presença de instrumento antigo musical utilizado por muitas pessoas em um momento no qual já é considerado ultrapassado há muito tempo. Entretanto, sem dúvida, a arquitetura do trabalho e a presença de som permeando-o, entes que trabalham a percepção e movimentação dos observadores,  é o fator mais importante a ser observado e analisado no trabalho "Le Clash" de Anri Sala.

Para Anri Sala, fazer uma exibição é como começar uma conversa com o lugar e os futuros visitantes. Não é somente exibir bem cada trabalho, mas também exibir o espaço entre os trabalhos. Para haver comunicação não tem que haver necessariamente uma narração ou uma comunicação verbal. A música, por exemplo, tem uma crescente importância em seu trabalho, enquanto a linguagem propriamente dita está cada vez menos presente. Na obra “Answer me”, há uma jovem tentando terminar um relacionamento por razões não especificadas, e ao invés de ser ouvida, ela acaba constantemente silenciada pelo barulho da bateria que está sendo tocada por aquele que virá a ser seu ex-namorado (inclusive percebe-se que a última fala da jovem é “it’s over”, ou seja, está acabado). Do lado da sala em que a jovem se encontra, o batuque do rapaz (fisicamente do lado oposto) acaba muito próximo dela. Isso mostra a ideia de como um lugar, sem fazer muito, apenas estando lá, pode transformar um silêncio constrangedor em um barulho constrangedor. Isso ocorre porque a filmagem se passa em um local propício à amplificação sonora. De acordo com a curadora da exposição feita no Instituto Moreira Sales, Anri Sala desenvolve frequentemente trabalhos em locais com alguma carga histórica. No caso de Answer me, a filmagem foi feita no interior das cúpulas geodésicas da antiga estação de escuta e espionagem construída pela agência de segurança nacional dos Estados Unidos, em Berlim Ocidental a partir de 1963, para monitorar o antigo bloco soviético. É um conjunto de quatro cúpulas que hoje são uma ruína da guerra fria, e se encontra no topo da “Montanha do diabo”, uma colina formada pelo empilhamento de destroços da cidade na segunda guerra mundial. Além disso, ela se encontra sobre o projeto inacabado de uma faculdade militar nazista que os aliados não conseguiram destruir. Essas cúpulas amplificam extremamente os sons. Desse modo, houve comunicação, porém, não necessariamente verbal por completo. O próprio local historicamente conflituoso já se relaciona com o conflito do casal.
O filme “1395 days without red” se passa em Sarajevo, focando interseções na parte da cidade chamada “Sniper Alley” (beco dos atiradores) durante o cerco de forças sérvio-iugoslavas que começou em 1992, durando mais de 4 anos. Foi fruto de um desenvolvido por Šejla Kamerić e Anri Sala que visava um projeto único em conjunto com o maestro Ari Benjamin Meyers. O nome “1395 dias sem vermelho” vem do alerta do governo contra o uso de cores vivas, temendo ataques. Sarajevo fica nos Alpes Dinaric a 1.700 pés de altitude com picos próximos atingindo mais de 6.000 pés, proporcionando ampla elevação para localizar e pressionar os habitantes da cidade. No filme, a protagonista procura chegar na sala na qual ensaia a 6° de Tchaikovsky, ou “a Patética”. No caminho, ela atravessa os cruzamentos de Sniper Alley. Tal viagem não é cronologicamente linear, indo e voltando no tempo. A noção de tempo no filme não é passada através de diálogos (os quais são ausentes), e sim pela alternância entre cruzamentos e cenas de ensaio, de acordo com a ordem das partes da peça de Tchaikovsky sendo tocadas, passando a ideia de avançar ou regredir no tempo. Assim, cria-se uma reflexão sobre memória (no caso, traumática) e o ato de assumir a memória em si (como quando se aprende uma peça). Para Sala, o filme não é sobre contar uma história, e sim reviver uma experiência. É sobre como transmitir coisas sem fala-las. O único diálogo é entre a respiração e a sinfonia tocando. Mostra também como o corpo cria gestos, podendo produzir comunicação sem produzir um discurso verbal.
Anri Sala não se vê tornando necessariamente uma referência. Ele espera que seu trabalho crie dúvidas na audiência, enquanto há muitas certezas, ou que crie certezas quando houver muitas dúvidas.
A partir dessa exposição, podemos refletir melhor sobre arte contemporânea, chegando a pensar que talvez seja uma boa forma de desautomatizar o pensamento humano contemporâneo, que se encontra acostumado com informações diretas, preso em uma zona de conforto imposta por uma cultura que direciona o homem ao que deve ser compreendido de cada informação, sem margens a um pensamento crítico ou interpretativo.
Fontes:
Ceasefire Magazine
Anri Sala: music before language- Louisiana Channel
Anri Sala- No Names, No Title

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