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MARULHO e o trabalho do curador de arte contemporânea



Entre os dias  30 de julho de 2016 e 05 de março de 2017 ficará em cartaz no Museu Arte Moderna do Rio de Janeiro a exposição "Em polvorosa – Um panorama das coleções do MAM Rio". Como o próprio nome sugere, ela traz um panorama das coleções adquiridas pelo museus ao longo desses 60 anos, juntando as coleções MAM Rio, Gilberto Chateaubriand e Joaquim Paiva. Claro que um acervo tão grande (mais de 16 mil obras) não pode ser exposto em uma única vez e, portanto, o trabalho dos curadores deu um recorte significativo a tudo que é apresentado. Em polvorosa, resumindo, é a mistura, as tonalidades, a vibração da arte contemporânea em sua faces mais distintas.

A obra Marulho de Cildo Meireles pode ser usada como exemplo do trabalho de curadoria feito por Fernando Cocchiarale e Fernanda Lopes. Em seu livro, Quem tem medo de arte contemporânea?, Fernando dá várias pistas para entendermos e principalmente vivenciarmos as obras expostas e aqui, em destaque, Marulho.




Se a arte Renascentista tentava compreender o papel do homem na sociedade, sua centralidade, suas peculiaridades e a arte Moderna tentou entender a forma além da representação do real, a arte contemporânea vem bagunçar com todas essas premissas. Por isso ela assusta: ela não tem propósito, ela não tem significado. Mas é inegável que ao subir os degraus do deck de madeira que simula um pier a obra e avistar os papéis azuis que ensaiam um mar ondulante e especialmente ao escutar as centenas de vozes falando a palavra "água" em diversas línguas como se fosse o barulho do mar sente-se toda a sensação de que o artista quis expressar.

Esse artista que cria, mas que não é o único autor. Não foi Cildo sozinho que, em um ateliê romântico, criou peça por peça da instalação. Ele contou com a ajuda de técnicos das mais variadas áreas para que sua obra ganhasse forma. E isso é algo fascinante da arte contemporânea, o autor que não está totalmente envolvido em todas as etapas de criação de suas obras. Não temos mais a figura do artesão-artista, mas a do artista projetista. Um arquiteto que passa por meio de seu trabalho subjetividade, que cria um espaço, o conceito de instalação é, ao meu ver, junto com a performance os maiores expoentes da arte contemporânea. Uma obra que "não cabe em galerias" embora esteja em uma, uma obra para apreciar com mais de um sentido (visão, audição, tato). Uma obra que, diferente das "obras primas" do passado pode ser editada. Como essa é sua segunda montagem no Rio.




O grande trunfo da exposição e que deixa claro as posições de Fernando em relação ao seu trabalho de curador é a falta dos famosos textos explicativos ao lado das obras. Ele entende que a arte contemporânea está menos para ser explicada e que a explicação nem sempre contribui para a compreensão de uma obra.

Juliana Salles, Vitória Alves, Andréia Fernandes e André Abreu