Image Map


Um panorama Em Polvorosa

A exposição "Em Polvorosa: um panorama das coleções do MAM" tem o nome em homenagem ao 
artista já falecido Tunga e uma obra sua; a série "Desenhos em polvorosa". A mostra ocupa todo o 
segundo andar do prédio do Museu e é resultado de um panorama da produção artística do final do 
século XIX até os dias atuais. Além de ser composta por três coleções; a coleção do MAM; a coleção Gilberto Chateaubriand e a coleção Joaquim Paiva.

A obra “Fantasma”, do artista plástico português Antonio Manuel se encontra na exposição. O artista é um dos principais ligados ao experimentalismo, onde a experiência de cada um com a interação com o trabalho também faz parte da obra. Suas obras também têm forte tom político e às vezes, relação com notícias. Tornou-se assim conhecido nos anos 60. Na obra em questão, há pedaços de carvão suspensos por fios transparentes de nylon, e o público é convidado a andar por entre eles, podendo ficar com marcas. As estruturas de ferro no teto que sustentam as lascas remetem à diagramação de um jornal. No canto da instalação, há a fotografia de uma testemunha da chacina na favela do Vigário Geral (tragédia colocada em prática por cerca de 50 homens encapuzados em 1993, quando buscando vingança mataram 21 inocentes), encapuzada e cercada por microfones da imprensa. Lanternas iluminam a imagem. A foto é de uma testemunha ocular do massacre que desapareceu para proteger-se. Segundo Manoel, “A fotografia que integra a instalação é de um personagem real que, ao ter sua imagem divulgada pela imprensa como testemunha de um crime, passou a viver escondido, perdendo sua identidade e transformando-se em um verdadeiro fantasma.”. A obra foi apresentada inicialmente em 1994, na Galeria de Arte IBEU, no Rio de Janeiro. Depois disso já passou por São Paulo, Paris, Portugal e EUA, até ser adquirida pelo MAM Rio em 2001, pelo Programa Petrobrás Artes Visuais. É um trabalho calmo, de natureza meditativa. Para Manuel é interessante essa vivência da pessoa com a obra, para que não seja um mero observador. 




O trabalho "Eu amo camelô" de Opavivará é composto por um porta fotos que muito se parece com o utilizado por bancas de jornais para colocar cartões postais para a venda e cartões postais presos 
neles. São dezesseis cartões espalhados  aleatoriamente com  fotos de camelôs em praias pelos 
dezesseis espaços, sendo que oito dos cartões  tem a cor normal e os oito que formam par com eles 
possuem as cores ressaltadas. O fato de haver cartões postais em pares "iguais" espalhados pelo 
espaço em questão proporciona uma ideia de quebra cabeça.  Além disso, ao se observar os 
cartões-postais do Brasil, percebe-se que todos representam pontos turísticos conhecidos e com status elevado. Os cartões postais de Opavivará exibem um componente excluído no país que está à margem na sociedade;  os vendedores ambulantes, pessoas que representam mais o que é Brasil também por 
serem pobres e esquecidas. E representam mais o Rio de Janeiro que o Corcovado,  por exemplo. 



A obra “Marulhos”, do artista Cildo Meireles é um dos destaques na exposição "Em polvorosa - um panorama das coleções do MAM". O trabalho é uma propriedade do museu. O curador Fernando Cocchiarale mandou derrubar os painéis que dividiam o espaço. São ao todo 123 metros de extensão. Meireles relata que havia um momento no qual estavam sendo vendidos muitos livros na rua, e ele começou a se interessar por fazer uma coleção de imagens de água. O artista observou que o livro aberto tinha formato de ondas e começou a pensar no efeito de vários um ao lado do outro. Assim poderia criar uma espécie de “padrão marítimo”, como fala Meireles. Juntou a isso uma banda sonora constituída por todas as línguas vivas, em uma fita que totalizava cerca de 84 idiomas, enunciadas por pessoas de diversas idades, gêneros e procedências, e com intenção de ampliar. Água, Water, Eau, Acqua, Gui, Zou, Madiba, Mvura, Biyo, Amanzi, Aiga, Vanduo. É utilizado um sistema de quatro caixas de som, cada uma com um tempo diferente do cd tocado. Há dois pares de caixas laterais que tocam o mesmo cd, dando sempre impressão de onda chegando e saindo. Aos vários livros abertos, se associa a imagem de mar, à qual se associa a água, que leva ao som. Para completar a ideia de deslocamento espacial do apreciador, é construído um píer adentrando o mar de imagens da água, com iluminação típica, justapondo uma arquitetura de uso real com ima impressão gerada. Segundo Cildo Meireles, tudo depende da capacidade do observador de identificar o fato artístico, e em última análise, vai depender do grau de informação, de cultura, de refinamento do observador em relação àquilo. “ Uma das preocupações da minha geração era produzir trabalhos que de alguma maneira o espectador pudesse, em algumas situações até matematicamente, reconstruir. Ou seja, que eles não repousassem puramente em uma patologia do artista.”, diz o artista em uma entrevista para a Bravo online. O som torna-se fruto de todos, mas sem pertencer a ninguém. O mar liga os territórios e povos. É um espaço híbrido. Mas enfim, é injusto reduzir a arte à simplicidade de uma única explicação, como pensa o próprio curador da exposição em seu livro “Quem tem medo de arte contemporânea”.  Cabe, portanto, a cada um fazer a visita e ter essa experiência única. 


Fontes- Marulhos:


Fontes- Fantasmas:

Grupo: Sarah Lopes, Gabriela e Lívia Macedo