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Marulho e Ping-Ping

Na visita ao Museu de Arte Moderna, a primeira obra observada foi “Marulho” (Mar+Barulho) de Cildo Meireles, do ano de 1991. A obra é composta por um deck de madeira e no chão, foram colocadas folhas de papel azul sobrepostas, dando uma ideia de movimento, simulando as ondas do mar. Além disso, há também alto-falantes que reproduzem a palavra “água” em mais de 80 idiomas, algo interessante pois é extremamente difícil pensar como se pronuncia “água” em tantos idiomas. As palavras formam um som difícil de identificar, podendo ter diversas interpretações, lembrando até mesmo o barulho do mar, como indica o nome da obra.


A estrutura do lugar é muito bem planejada, dando uma sensação de estar realmente avistando um mar. Ademais, é bastante inclusiva ao levar em consideração diversas línguas. Ao adentrar o espaço, os espectadores parecem estar imersos em um mar que nos remete à sensação de imensidão, tendo em vista o ambiente limpo e bastante verossímil, porém, com elementos que não são exclusivamente da natureza.

Os livros são expressão metafórica do mar, a profundidade das histórias, a polissemia das interpretações. Onde fica o fundo do mar? Como toco o fundo da obra? É a própria metalinguagem da obra, seus objetos técnicos e seus sentidos. 
Uma obra que nos capta a atenção dentro da exposição, cuja curadoria foi feita por Fernando Cocchiarale e Fernanda Lopes, é de Waltercio Caldas: Ping-ping, a construção do abismo no piscar dos cegos. Esta impecável peça de arte contemporânea é responsável por nos pregar uma peça, trabalhando na ideia da percepção visual de dimensão especial, e como cada uma passa pela outra, de acordo com o ponto de vista. Por isso, seríamos todos cegos, pois a percepção é algo difuso também. A mostra é conduzida pelo olho, conforme diz Cocchiarale em entrevista ao jornal "O Globo": "Quisemos pôr a arte brasileira numa conversa com a arte estrangeira, criando associações entre elas. Aqui tem uma série de licenças, misturas. Isso é montado para o prazer do olho, não é uma aula de história da arte.”


As diferentes perspectivas da obra.
A exposição dialoga o tempo inteiro com uma perspectiva múltipla de sentidos, significados e signifâncias na arte. Nos leva a refletir sobre a construção da própria obra e, para além de seu entender, suas nuances e camadas de intenções, iniciadas na estrutura, direcionadas ao espectador e, provavelmente, nunca finalizadas nele. O trabalho pronto, finalizado, exposto, não é o verdadeiro fim dele. Na arte contemporânea, a obra conversa com quem a observa; expressão do próprio mar, a infinitude da água toca e é tocada pelo observador. Nesse movimento, entre as braçadas do nado, contitui-se um jogo de ping-pong entre a obra e o espectador, uma luta de sentidos, uma multiplicidade de olhares.
Grupo: Giulia Alves, Lucas Freitag, Renata Rougemont e Vitor Grama