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Vila dos mistérios - Julia Debasse - Oi Futuro 28/09/2016

A exposição “Vila dos Mistérios” de Julia Debasse é baseada na obra “Villa dei Misteri”, recriando a arte de Pompeia. A artista representa algumas figuras populares em uma pintura de 12 metros de comprimento, como Orixás, bate-bolas entre outros.

As pinturas que foram expostas no Oi Futuro são muito ricas em cores e paisagens. Ademais, possuem menos compromisso com a forma e mais com o conteúdo, o que representam, demonstrando uma grande entrega da artista, pelos diversos recursos utilizados.  Um ponto muito interessante da exposição é a borda que fica em torno dos desenhos, formando um mural, mostrando assim uma informação paralela ao motivo principal.  Essas bordas são lindas paisagens de lugares como: Praias, um luar, o Coliseu, dentre outros que representam os cenários onde aconteceram as situações pintadas. Nos desenhos há uma junção de muitos tipos de máscaras e todas as pessoas usando-as, exceto por um homem que está mostrando sua face, o que causa um estranhamento intencional.

Vale salientar que na obra há também as iluminuras, ou seja, a artista dialoga com a questão de pinturas sem autor, é notável a associação que Julia faz entre épocas tão distintas, tangendo a não-autoria ao invés da autoria – algo que datou do Renascimento. As cores vivas utilizadas dão uma certa alegria aos espectadores, haja vista que na contemporaneidade há uma certa crise no que concerne as cores. Indubitavelmente, há uma entrega da artista à pintura em geral.

É possível perceber no afresco bordas com informações díspares que coexistem e falam uma coisa sobre a outra. Todavia, as bordas não se relacionam de maneira linear. É identificável referências como cartões postais, pinturas de John Constable, commedia dell'arte e Londes – cidade que mais morreram pessoas em decorrência da praga.


É de suma relevância ressaltar que um ponto interessante da obra, que é a recriação de uma história. A obra original "Vila dos mistérios" tem uma história muito geolocalizada, determinada pelos elementos da cor "rosso pompeano" e da história do autor apagada pelo vulcão. Recriá-la, é contar uma nova história, é estabelecer uma nova narrativa e reconduzir o olhar para os aspectos culturais como o "bate-bola" e dar autor a uma obra nova, e fazer justiça à história apagada pelo próprio tempo e pela natureza.
A artista apresenta um lado importante da arte contemporânea: o apreço pela subjetividade interpretativa do leitor – afinal, as obras de arte são como poemas (que também são arte!), devem ser lidos e relidos.

Um trabalho interessante da autora que não estava na exposição são as suas releituras dos sistemas, ou órgãos do corpo humano. A artista apresentou a ideia como uma transmissão da conexão indissociável entre os órgãos do corpo humano assim como entre os ecossistemas. Um não existe sem o outro. No entanto, pela Arte Contemporânea ter esse viés da perspectiva do observador, pode-se também entender o projeto como um infinito dentro do finito. Somos feitos de paradoxos de Zeno: dentro de nós há muitos infinitos e infinidades de possibilidades, assim como na natureza – infinitos organismos dentro de um só. Entre a cabeça e os pés existem tantas coisas, assim como entre Aquiles e a Tartaruga. E nessa missão de autodescoberta, a arte é a bússola que nos conduz a muitas “vilas dos mistérios”.


GRUPO: Giulia Alves, Lucas Freitag, Renata Rougemont e Vitor Grama.