A exposição “Vila dos Mistérios”
de Julia Debasse é baseada na obra “Villa
dei Misteri”, recriando a arte de Pompeia. A artista representa algumas
figuras populares em uma pintura de 12 metros de comprimento, como Orixás,
bate-bolas entre outros.
As pinturas que foram expostas no
Oi Futuro são muito ricas em cores e paisagens. Ademais, possuem menos
compromisso com a forma e mais com o conteúdo, o que representam, demonstrando
uma grande entrega da artista, pelos diversos recursos utilizados. Um ponto muito interessante da exposição é a
borda que fica em torno dos desenhos, formando um mural, mostrando assim uma
informação paralela ao motivo principal.
Essas bordas são lindas paisagens de lugares como: Praias, um luar, o
Coliseu, dentre outros que representam os cenários onde aconteceram as
situações pintadas. Nos desenhos há uma junção de muitos tipos de máscaras e
todas as pessoas usando-as, exceto por um homem que está mostrando sua face, o
que causa um estranhamento intencional.
Vale salientar que na obra há
também as iluminuras, ou seja, a artista dialoga com a questão de pinturas sem
autor, é notável a associação que Julia faz entre épocas tão distintas, tangendo
a não-autoria ao invés da autoria – algo que datou do Renascimento. As cores
vivas utilizadas dão uma certa alegria aos espectadores, haja vista que na
contemporaneidade há uma certa crise no que concerne as cores. Indubitavelmente,
há uma entrega da artista à pintura em geral.
É possível perceber no afresco
bordas com informações díspares que coexistem e falam uma coisa sobre a outra.
Todavia, as bordas não se relacionam de maneira linear. É identificável referências
como cartões postais, pinturas de John
Constable, commedia dell'arte e
Londes – cidade que mais morreram pessoas em decorrência da praga.
É de suma relevância ressaltar que
um ponto interessante da obra, que é a recriação de uma história. A obra
original "Vila dos mistérios" tem uma história muito geolocalizada,
determinada pelos elementos da cor "rosso
pompeano" e da história do autor apagada pelo vulcão. Recriá-la, é
contar uma nova história, é estabelecer uma nova narrativa e reconduzir o olhar
para os aspectos culturais como o "bate-bola" e dar autor a uma obra
nova, e fazer justiça à história apagada pelo próprio tempo e pela natureza.
A artista apresenta um lado
importante da arte contemporânea: o apreço pela subjetividade interpretativa do
leitor – afinal, as obras de arte são como poemas (que também são arte!), devem
ser lidos e relidos.
Um trabalho interessante da
autora que não estava na exposição são as suas releituras dos sistemas, ou
órgãos do corpo humano. A artista apresentou a ideia como uma transmissão da
conexão indissociável entre os órgãos do corpo humano assim como entre os
ecossistemas. Um não existe sem o outro. No entanto, pela Arte Contemporânea
ter esse viés da perspectiva do observador, pode-se também entender o projeto
como um infinito dentro do finito. Somos feitos de paradoxos de Zeno: dentro de
nós há muitos infinitos e infinidades de possibilidades, assim como na natureza
– infinitos organismos dentro de um só. Entre a cabeça e os pés existem tantas
coisas, assim como entre Aquiles e a Tartaruga. E nessa missão de
autodescoberta, a arte é a bússola que nos conduz a muitas “vilas dos mistérios”.
GRUPO: Giulia Alves, Lucas Freitag, Renata Rougemont e Vitor Grama.