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Vila de Julia


A tela mede 1300 x 122, a artista é carioca e o lugar não poderia ser mais público. No Oi Futuro do Flamengo, Julia Debasse expõe Vila dos Mistérios. A obra faz parte do projeto Tech_Nô, no qual passam uma série de trabalhos destinados única exclusivamente à vitrine de 13 metros no exterior da casa, sendo de Julia a primeira pintura.

Ela conta que a obra, antes de qualquer pincelada, começa em Pompeia, onde esteve durante uma de suas exposições. Lá, a pintora teve contato com um dos mais famosos afrescos de toda arte romana, “Villa dei Misteri”, e ficou particularmente atraída pelo vermelho que o integrava. Em conversas com os locais, Debasse descobre que o tom chamado de “Rosso pompeiano” era único do lugar e impossível seria trazê-lo, já que se dá por efeitos vesuvianos.




No entanto, a impossibilidade da cor não impediu Julia de criar. Com seu “vermelho Nova Iguaçu”, a artista reproduz a obra que não tem autor a seu próprio modo. Faz o mistério, não pela iniciação ao culto de Dionísio (uma das muitas interpretações da Villa pompeiana), mas pelo que se esconde por trás das máscaras de orixás, papangus e bate-bolas, beduínos eguns, índios Tucuna. Tudo isso contracena com os cartões postais ao topo, que indicam as referências geográficas de tudo que a inspirou. Assim, Debasse cria um jogo entre a cultura explicitada nos adereços com a busca do leitor pela sua origem.

Mas muito mais que vermelho, máscaras, referências e cartões postais, a Vila de Julia fala intencionalmente sobre estranhamento. Ao espectador despreparado, se é que existe preparação para a arte, o trabalho causa uma certa confusão. Perguntam-se do porquê de tantas mascaras, quais significados, se é de lá para cá ou de cá para lá e, como um destes que escreve perguntou: “por que tem um cara sem máscara lá no meio? ”. Esse é o mistério da Vila. Mistério esse que leva o espectador a investigar a obra e encontrar nele mesmo as respostas, criando a sua própria narrativa. O sentido é o leitor que dá, e é isso que Julia quis. A autora ainda acrescenta comentando a existência da apropriação cultural inescapável e de como o que somos é formado por essas múltiplas transferências, ratificando assim a troca da obra com o leitor e do leitor com a obra.
Então, enquanto houver quem caminhe na Vila de Debasse, não faltará o que falar, sentido a dar ou a compreender. Há ali e poderá ter muito de muita coisa, mas não à toa, afinal estamos falando de uma Vila em tela que mede 13 metros.


Grupo: Isaque Ferreira, Brunno Motta, Leonardo Couto, Guilherme Telles