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Com a proteção dos Orixás

"Orixás" é a primeira exposição feita pela nova gestão da Casa França Brasil, com curadoria de Marcelo Campos. A exposição busca retomar os laços históricos entre Brasil e África, especialmente no que se refere a arte e a religião. A própria localização da Casa França Brasil, no Porto Maravilha, já faz referência a chegada dos africanos ao Brasil. Entretanto, analisando-se o comércio negreiro que ocorria no local, no Brasil-Colônia, e em todos os horrores sofridos pelos negros escravos, o nome dado perde um pouco de sentido e se torna, até mesmo, irônico.
Texto introdutório à exposição
Os trabalhos expostos na Casa França-Brasil procuram abordar o sincretismo religioso, através da relação entre a religião afro-brasileira com o cristianismo e crenças indígenas. Além disso, valorizam os pequenos artesãos (agora, em exposição, artistas) brasileiros, principalmente os soteropolitanos.
Obra de Arthur Scovino
A obra de Arthur Scovino (entitulada “Diagrama sincrético dos aflitos para Santo Antônio Caboclo baseado nas conversas com Padre Aderbal”)  não é, nada mais, nada menos que uma parede enfeitada com várias imagens de santos católicos. Essas imagens, por serem encontradas facilmente em qualquer lugar (as da obra em questão, por exemplo, foram compradas no Mercadão de Madureira), provocam no espectador uma reação sobre a dessacralização de objetos litúrgicos.
Detalhe da obra
A obra “Bejé Oró”, de Tiago Sant’Ana, é uma referência ao universo mítico que perpassa e une Ibeji-Cosme e Damião-erês. Assim como fazem alguns nativos da Nigéria, do Benin e do Togo quando um dos gêmeos morre antes de serem fotografados juntos, o artista se fotografa duas vezes, fazendo de sua própria imagem duplicada a imagem de seu irmão.
"Beje Oró"
Os detalhes que mais chamam atenção, devido ao estranhamento causado, e se vinculam a essa etapa da tese é o colar de chupetas e a embalagem de amaciante em formato de ursinho de pelúcia que o artista segura. O colar de chupetas remete ao coletivo, às várias crianças, vivas e mortas, vinculadas aos gêmeos sagrados. O amaciante traz à memoria uma célebre propaganda dos anos 90 em que o ursinho, símbolo do produto, aparecia constantemente em comerciais na televisão. A marca, além de vender o produto de limpeza, também comercializava o bicho de pelúcia. Ao portar o produto ao invés do urso de pelúcia, o artista acaba por fazer referência às infâncias pobres, desprovidas da possibilidade de acesso aos bens de consumo, mas que criativas, brincam com a embalagem do produto de limpeza, como se fosse o urso de pelúcia que não podem possuir. Isocronicamente, a embalagem de plástico resignificada dialoga intensamente com os tipos de brinquedos oferecidos aos gêmeos meninos, a Doum e aos Erês.
Sessão "transe"
Detalhe de uma fotografia
Uma importante característica da exposição é a divisão por temas. Dentro de cada tema, agrupam-se obras, não necessariamente do mesmo artista. No caso da sessão "transe", estão agrupadas fotos de Bruno Vilela e Guy Veloso. O tema, como o próprio nome diz, aborda o momento de transe dos frequentadores de terreiros de Umbanda e Candomblé. Os filhos e mães de santo, neste momento, "incorporam" antepassados, crianças, dentre outros. O interessante nas obras é que, diferentemente do usual, as fotos não trazem elementos típicos da religião em primeiro plano (como as vestes ou adereços dos orixás), mas sim as expressões faciais das pessoas em transe, focando mais no momento com seus aspectos físicos do que no seu sentido religioso.

Grupo: Felipe Glioche, Flora Faria, Lívia Lúcio, Lucas Tapajós e Luiza Lunardi.